A brutalidade rural
O Público de hoje nomeia, quando possível, as quarenta e três mulheres que, ao longo de 2010, morreram por violência doméstica. Além de as nomear, ainda apresenta uma série de dados estatísticos sobre as mortes. Um deles é francamente revelador do quão errados estamos, tantas vezes, sobre a nossa terra. Quando se distribuem as mulheres pelo mapa do país, notamos que, grosso modo, só se morre de violência doméstica nos grandes centros urbanos. Não há mulheres assassinadas em Beja, em Évora, em Bragança ou na Guarda. As mulheres morrem em Lisboa, em Setúbal, no Porto e em Coimbra. É o país avançado, civilizado, moderno a viver em pura barbárie, enquanto os nossos saloios, os nossos rednecks, apesar de tudo, conseguem dar uma lição a todos os outros. Nas brutais aldeias rurais, pobres, desdentadas e com sotaque, os homens e as mulheres, com todos os seus problemas, vivem, pelo menos, atrás da morte. Antes de lhes apontarmos o dedinho «educador», devíamos pedir-lhes umas orientações.