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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

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Deolinda, agora com números II

Priscila Rêgo, 04.03.11

Quanto a níveis de desemprego, estamos conversados. E em relação ao tipo de emprego? Perdi algum tempo a procurar dados no Instituto Nacional de Estatística mas, infelizmente, não consegui encontrar informação com o nível de desagregação ideal. Por exemplo, foi impossível analisar os tipos de contrato por idade e por nível educativo. É possível "varrer" as duas categorias, mas apenas separadamente. Perante este problema, cingi-me aos dados disponíveis.

 

Como no post anterior, calculei valores anuais e fiz uma comparação inter-temporal. O primeiro de três resultados é o gráfico de baixo, que revela a o peso de cada vínculo contratual no total do emprego nacional: contratos sem termo, contratos com termo e recibos verdes. O somatório das três percentagens não é necessariamente 100%, porque há alguns contratos (designados “outros”) que optei por não incluir. O seu peso, de qualquer forma, é relativamente marginal.

 

 

Factos a salientar: apesar do que se diz, a esmagadora maioria dos contratos em vigor em Portugal não têm termo. Os contratos a prazo pesam quase 20% do total, mas os recibos verdes praticamente não têm expressão. A título de curiosidade, calculei uma Taxa de Precariedade, que mais não é do que o somatório dos recibos verdes com os contratos com termo. Resultado final: entre 1998 e 2010, a taxa aumentou por um factor de 1,6. Agora, olhem para baixo.

 

 

Dêem um pulo ao post anterior. Notam as semelhanças? Para os mais desatentos, eu aponto: a precariedade aumentou entre 1998 e 2010 mas, mais uma vez, fê-lo em linha com o que aconteceu a nível nacional, crescendo por um factor de 1,7. Sim, hoje em dia cerca de metade dos jovens são “precários”. Mas, há 12 anos, mais de 30% estavam igualmente nessa condição. Outro ponto curioso diz respeito ao peso dos recibos verdes, muito menos relevante do que que eu esperava. Entre os 15 e 24 anos, menos de 2% dos contratos são feitos sob o abrigo deste regime contratual. É caso para dizer: são poucos, mas gritam muito.

 

O facto de não ser possível cruzar a idade com o grau de licenciatura tira alguma importância ao gráfico seguinte mas, ainda assim, optei por publicá-lo. Diz respeito aos vínculos contratuais dos licenciados.

 

 

Não há grandes surpresas. A precariedade aumentou, sim, mas por um factor – ora adivinhem lá…  – de 1,6. É verdade que a precariedade é superior à média nacional, mas este facto nem deve ser estranho tendo em conta que a maioria dos recém-licenciados é jovem. Seria interessante fazer uma análise mais fina mas, como disse antes, não consegui encontrar dados mais finos. Fica o desafio para quem dominar melhor as bases de dados do INE.

 

As conclusões são fáceis de retirar. Apesar de os jovens terem, de forma global, vínculos mais precários, a sua situação degradou-se mais ou menos em linha com o que aconteceu noutras faixas etárias (os factores de crescimento da precariedade variam entre 1,6 e 1,7). E os recibos verdes, apesar do impacto mediático que têm, representam uma parte reduzidíssima do total de vínculos laborais, mesmo entre os jovens. Até agora, nada suporta a ideia de uma "geração Deolinda". O argumento final fica para o próximo post, que fecha a série com uma análise de níveis salariais.

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