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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

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Pobrezinhos, mas honrados

Tiago Moreira Ramalho, 08.05.11

No meio do ruído que se instalou nos últimos meses, coisa desconfortável mesmo quando o jornal está guardado e a televisão desligada, distinguem-se duas correntes, se «correntes» é o nome apropriado. Uma defende que a primeira prioridade que o Estado português deve ter é o pagamento das dívidas e que tudo o que ponha esse objectivo em causa deve ser rejeitado. Outra defende que a dívida é secundária, que pode ser renegociada, e que o relevante é assegurar o emprego e o crescimento económico.

Como parece evidente, não há aqui um certo e um errado. Trata-se de simples confronto de preferências. Pessoalmente, tendo a concordar com a primeira linha, apesar do desemprego e recessão geradas, por uma razão muito simples: uma questão de dignidade e credibilidade. Renegociar a dívida, o que, posto em termos simples, significa pedir condições especiais que, no limite, podem concretizar-se em «perdões» (daqueles que demos à África subdesenvolvida à conta, dissemos na altura, da sua incapacidade de se governar) significa que seremos por muitos e bons anos, isto se não for permanentemente, considerados quase inimputáveis pelos restantes Estados. Um país do primeiro mundo que é incapaz de se organizar a fim de pagar o que deve. Isto traz incerteza e pode comprometer seriamente o investimento durante os próximos anos, dados os prémios de risco que tal incerteza implica. Claro que o caminho tem um custo – a recessão no curto-prazo. E é claro que optar pelo caminho diverso poderia ter outros interesses (o problema não é a dimensão da dívida, mas sim a nossa capacidade de a suportar – afinal, há por aí muitos países com dívidas públicas assustadoramente superiores à nossa). No entanto, se queremos ser um Estado respeitado, tanto na esfera económica como na esfera política, temos de ser capazes de, numa situação destas, dar um passo atrás para que nos seguintes possamos ter a coluna direita. «Pobrezinhos, mas honrados»? Sim. É isso mesmo.

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