Miss Piggy
Hoje, numa das muitas pausas, que parecia uma alforreca, eu, botei no canal da televisão por cabo National Geographic e vi um documentário sobre animais que trabalham – curiosa ironia. Um deles era sobre a Miss Piggy, uma porquinha de uma raça que lavra a terra não com as unhas dos pés mas com a focinha. Ora, a Miss Piggy foi atacada por um lince, um animal maldoso, portanto, que lhe desfez a orelhita esquerda, era ela pequenina. Os donos só se aperceberam que ela tinha sobrevivido quando começou a mexer as patinhas, como o bolinhas, e foram senhores de lhe mandar fazer seis operações. No fim, digamos, ficou rija. E gorda. Mas como andava em tratamentos, ficou na casa dos donos. Foram nove meses, até que os flatos da bardajona não se aguentavam mais. Resultado: problemas de personalidade. A porca ficou a pensar que era um cão, diziam os senhores da televisão. Nada de especial neste mundo que é o nosso. O desespero dos insensíveis donos não eram os padecimentos da porquinha, que estava à beira de ir fazer a transformação cirúrgica, mas sim o facto de ela não lavrar terra. Fidalga, a puta. Deitava-se na relva, com o majestoso papo virado para o ar, enquanto a plebe suína se esfalfava no campo. A dona, muito simpática em frente à televisão, pedia-lhe encarecidamente que trabalhasse. Nada feito. A solução foi drástica: botaram uma porca uma estação mais velha na mesma casota da Miss Piggy e, depois de esta última dar uma valente mijadela no meio do chão, para mostrar quem manda aqui, lá levou umas mordidelas e despertou do encantamento canino. Era uma porca outra vez. No fim do programa, alegria, lá se viu a porca a percorrer o seu caminho até um sítio bem catita para lavrar. De focinho sujo, regozijava-se – e os donos também. Eu, no sofá, a comer um dos muitos chocolates, só pensava no que era preciso para que houvesse mais crianças em Portugal.