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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

Dos escorrimentos

Tiago Moreira Ramalho, 30.06.10

«Na Assembleia da República, no outro dia, o primeiro-ministro, afivelando o seu melhor sorriso chocarreiro, e com o tom gozoso e plebeu que põe habitualmente no exercício, dirigia-se à deputada dos Verdes chamando-lhe, entre outras coisas, "estalinista" e "pós-moderna". A simples máquina de palavras que ele é não é sem dúvida obrigada a dar-se conta da incompatibilidade dos conceitos, e o facto certamente não importa por aí além.»

 

Paulo Tunhas, i

 

Resta-nos rir, também, da conversa do mesmo primeiro-ministro, no mesmo dia, dirigindo-se à mesma pessoa, sobre o 1984 de George Orwell. Lembro-me da vergonha que senti pelo senhor, que notava-se perfeitamente que nunca tinha lido o livro, pois se o tivesse lido não colava a tese orwelliana ao lado dos argumentos das forças comunistas do Parlamento português. E depois também nos podemos lembrar, e sem dúvida rir, das incursões poéticas de José Sócrates, em tempos de campanha eleitoral, quando se botou a discorrer sobre Fernando Pessoa. Só escorria merda. Como diz o Paulo Tunhas, chegámos a isto.

O meu Mundial

Tiago Moreira Ramalho, 30.06.10

Parece que se nos acabou o Mundial de futebol. Nada deixava antever isto e a verdade é que perder nos quartos de final sabe a pouco. Mesmo tendo em atenção o facto de o Quim ter sido o guarda-redes medíocre, a goleada à Costa do Marfim e o empate com a Coreia do Norte, apesar, ainda assim, da derrota com o Japão, deixavam antever uma melhor prestação contra a Espanha, ontem. O golo do Katsouranis foi mais que motivo para três dias de luto nacional e para o regresso das guilhotinas, que se o país morreu em Aljubarrota, também deveria matar em Durban. O que mais desola é que a vida estava facilitada para as meias-finais, que a Suécia ainda não tem selecção de jeito. E, na final, lá nos encontrávamos de novo com a Coreia, para tirar as teimas ao admirável líder, que deixou fugir uns seis ou sete.

Agora é recuperar para o Mundial 2012, que vai ser no Brasil. Esperemos que nessa altura o Cristiano Ronaldo já não esteja lesionado e possa jogar e que o Scolari seja, finalmente, substituído, que bandeiras nas janelas ainda não ganham jogos e perder contra a Espanha, um brasileiro não compreende isto, é mau de mais.

Sem dramas

Bruno Vieira Amaral, 29.06.10

Desta vez não tivemos epopeias nem o drama dos nossos grandes fracassos. Caímos, impotentes e sem estrondo, no anonimato dos oitavos. Uma queda à altura da mediocridade dos jogadores. Um fato fúnebre à medida de Carlos Queiroz.

O Monte da Caparica é só mais um

Tiago Moreira Ramalho, 29.06.10

O que aconteceu no Monte da Caparica, em Almada, nos últimos dias, tal como o que aconteceu noutros bairros suburbanos, é simples consequência de políticas que qualquer análise séria daria como criminosas. Ao longo das últimas décadas, a Câmara de Almada edificou dezenas de prédios de habitação social, verdadeiros guetos com bonitos nomes, desde «Pica-pau Amarelo» a «Bairro Cor-de-rosa», sem ter qualquer tipo de cuidado com a segurança do concelho. Vivem hoje largos milhares de pessoas nessas habitações, milhares que garantem bons resultados eleitorais, bem como uma boa redistribuição natural da riqueza por essas ruas fora. Não se trata aqui de qualquer preconceito, longe disso. O facto é que violência gera violência e se crianças são colocadas desde o berço em ambientes onde armas, drogas e crimes da maior variedade são o pão de cada dia, não conseguindo fugir de tais ambientes nem sequer na escola, então estão condenadas a uma vida igual à dos seus pares.

A política de habitação social na maioria dos concelhos urbanos e suburbanos em Portugal constitui um problema seríssimo de segurança pública. Concorde-se ou não com o modelo de Solidariedade Social, a verdade é que a criação de guetos não funciona em parte nenhuma do mundo. Infelizmente, a pulhice de meia dúzia de autarcas ávidos do seu pequeno poder impede qualquer tipo de discernimento. A pulhice dos autarcas e a correcção de quem os acomoda nas felpudinhas cadeiras.

O óbvio ululante

Tiago Moreira Ramalho, 29.06.10

Quando a principal discussão em torno das SCUT’s  se prende a detalhes técnicos ligados aos estrangeiros e mais uns pinhões, em vez de se centrar no escândalo que constitui a obrigatoriedade de um chip em cada carro; quando o principal partido a zelar pelos princípios liberais de reserva de privacidade é o Partido Comunista Português; e quando toda a opinião pública se preocupa, essencialmente, com guerras regionais e defesas abstrusas de supostos regimes de excepção; quando tudo isto acontece, torna-se tristemente óbvia a debilidade mental da raça.

Um presidente inútil

Tiago Moreira Ramalho, 28.06.10

Por muito que a gente goste da Constituição, a verdade é que a Constituição não tem bracinhos nem mãozinhas para esbofetear ministros descarados. A Constituição tem de ter quem a proteja. Por cá, diz-se, tem um órgão de soberania todo para ela, um órgão de soberania directamente eleito pelo povo. O actual ocupante, que tem demonstrado, por diversas vezes, a sua inutilidade, decidiu agora promulgar um diploma que contém a aplicação de impostos retroactivos sem sequer o enviar para o outro garante, o passivo, que é Tribunal Constitucional. Se é certo que a ousadia autoritária de Teixeira dos Santos foi digna do Terceiro Mundo, muito mais me assusta a cobardia do Chefe de Estado, o último reduto da nossa confiança nas instituições. Mais que perguntar para que serve a Constituição, é importante perguntar para que serve um quadro institucional que não a faz cumprir.

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