Dos escorrimentos
«Na Assembleia da República, no outro dia, o primeiro-ministro, afivelando o seu melhor sorriso chocarreiro, e com o tom gozoso e plebeu que põe habitualmente no exercício, dirigia-se à deputada dos Verdes chamando-lhe, entre outras coisas, "estalinista" e "pós-moderna". A simples máquina de palavras que ele é não é sem dúvida obrigada a dar-se conta da incompatibilidade dos conceitos, e o facto certamente não importa por aí além.»
Resta-nos rir, também, da conversa do mesmo primeiro-ministro, no mesmo dia, dirigindo-se à mesma pessoa, sobre o 1984 de George Orwell. Lembro-me da vergonha que senti pelo senhor, que notava-se perfeitamente que nunca tinha lido o livro, pois se o tivesse lido não colava a tese orwelliana ao lado dos argumentos das forças comunistas do Parlamento português. E depois também nos podemos lembrar, e sem dúvida rir, das incursões poéticas de José Sócrates, em tempos de campanha eleitoral, quando se botou a discorrer sobre Fernando Pessoa. Só escorria merda. Como diz o Paulo Tunhas, chegámos a isto.