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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

Prémios A Douta Ignorância

A Douta Ignorância, 31.12.10

Vão finalmente ser divulgados os prémios que nós, pessoas importantes, atribuímos. Sabíamos que uma multidão de leitores os aguardava, por isso cá vão:

 

Prémio Personalidade do Ano: Tiago Moreira Ramalho, sendo que os restantes autores receberam menções honrosas;

 

Prémio Serviço de Apoio ao Cliente do Ano: Ensitel;

 

Prémio Empresa do Ano: BPN;

 

Prémio Banda Revelação: Zeca Sempre;

 

Prémio 'vou ali e já venho': Miguel Vale de Almeida;

 

Prémio 'sou tão uau e tal': Marta Rebelo;

 

Prémio 'acho o sócrates um génio': ex-aequo Eduardo Pitta e Emídio Rangel;

 

Prémio 'os economistas de todo o mundo vêm em sentido contrário': João Galamba;

 

Prémio 'ai, agora já sou boa?': a título póstumo a Maria de Lurdes Rodrigues;

 

Prémio Milf 2010: Gabriela Canavilhas;

 

Prémio Inovação do Ano: livros metidos em caixinhas apaneleiradas e por mais uns 10€;

 

Prémio Frase do Ano: «Fazemos assim: eu aceito dar explicações por cada muçulmano que raptar um filho a uma mãe cristã se o José Manuel Fernandes prometer enfiar uma banana no cu de cada vez que um padre for condenado por pedofilia, combinado?» Maradona.

 

Que todos os nossos leitores tenham um ano porreiro, pá.

Não desanimem. Vamos ter o TGV

Rui Passos Rocha, 30.12.10

A garantia é de Passos Coelho:

 

The whole farm was deeply divided on the subject of the windmill. Snowball did not deny that to build it would be a difficult business. Stone would have to be quarried and built up into walls, then the sails would have to be made and after that there would be need for dynamos and cables. (How these were to be procured, Snowball did not say.) But he maintained that it could all be done in a year. And thereafter, he declared, so much labour would be saved that the animals would only need to work three days a week. Napoleon, on the other hand, argued that the great need of the moment was to increase food production, and that if they wasted time on the windmill they would all starve to death. The animals formed themselves into two factions under the slogans, 'Vote for Snowball and the three-day week' and 'Vote for Napoleon and the full manger'.

[...]

On the third Sunday after Snowball's expulsion, the animals were somewhat surprised to hear Napoleon announce that the windmill was to be built after all. He did not give any reasons for having changed his mind, but merely warned the animals that this extra task would mean very hard work; it might even be necessary to reduce their rations.


- Animal Farm

O blogger do ano

Tiago Moreira Ramalho, 29.12.10

«Donas de casa torrenciais. Pedem um cafézinho muito quentinho curtinho numa chávena escaldadinha porque são umas lambonas e não podem sair à rua por causa do frio e dos pés inchados e dos quebrantos e dos bicos de papagaio e do goto inflamado e das dores na junta e da bicha solitária e da astrite e da astrose e do lumbago e do monco caído e da espinhela partida. Compram doze não trinta carcaças bem cozidinhas porque veio ontem de Paris a-filha-que-está-casada-com-o-engenheiro e só gosta do pãozinho português que é branquinho e cozidinho e não é o pão que os franceses carregam nos sovacos todos suados que aquela gente nunca toma banho como nós os mais limpinhos e branquinhos e cozidinhos da Europa e as porcas das francesas molham a cara com panos húmidos e nunca se lavam por baixo. Ai que nojo. Querem um euromilhões premiado senhor Teixeira para ir ao Brásiu laurear a pevide no Léblon e ver a Bruna e dar um beijão ao Marcelo e fofocar com a Taís e cutucar o Dirceu e transar com o Maurício e ficar no bem bom com a Dulcineide a Débora a Renata e a Solange e cuspir nas fuças da jararáca que fazia de Rafaela no Viver a Vida.

São as nossas Sherazades. Mil e uma noites e café da manhã para dois — sem saber o que virá depois, bem bom.»

 

Luis M. Jorge

Co-produções

Bruno Vieira Amaral, 27.12.10

Não vejo muita televisão, mas, impelido por uma força exterior ignota, não resisto a uma co-produção, sobretudo se for europeia. Quem não fica com água na boca ao imaginar o resultado dos esforços conjuntos dos melhores sonoplastas húngaros, das mais competentes maquilhadoras romenas e dos rigorosos produtores austríacos? Ainda melhor é quando juntam actores que não falam a mesma língua, numa Babel caótica e colada com o esperanto da dobragem. O elenco pode incluir Hans Morgenstern, Eva Kňồsèc e João Lagarto, numa sucessão multicultural de estrelas desconhecidas. Lá pelo meio, um nome reconhecível, capaz de por si só justificar a expressão “à frente de um elenco de luxo”. Era esse o papel de Omar Shariff em séries da RAI, como Pavilhões Distantes. No caso de Os Pilares da Terra, mini-série de co-produção germano-canadiana (é favor evitar piadas bélicas), o credor de prestígio é Donald Sutherland. Baseada no portentoso romance de Ken Follett, que eu, há coisa de cinco anos, não li, a série acompanha Tom, o Construtor, um antepassado do Bob, que tem a pancada de construir uma catedral. Houve um momento em que tremi de emoção benfiquista, quando Tom, ao apresentar o seu projecto ao prior, fala de uma catedral de luz e eu percebi A Catedral da Luz. Para quem não sabe, a história passa-se na Idade Média, com gente muito miserável e andrajosa (mas de dentição perfeita), monarcas pérfidos e monges sodomitas. Há envenenamentos e incêndios em mosteiros, mas quem pensar em O Nome da Rosa cheira mal. No final do episódio de ontem, havia boas perspectivas para se iniciar a construção da catedral, que deverá terminar, não sem centenas de peripécias emocionantes, lá para o oitavo e último episódio.

Desta vez não cobro

Rui Passos Rocha, 27.12.10

Enquanto os políticos não se organizam em sindicato estou condenado a ler infinitos elencos do que há de bom na transparência e na democracia aberta. Também o Peter Singer (pouco menos capilarmente avantajado do que o Moita Flores, igualmente palrador sobre tudo e mais alguma coisa, mas com a diferença de o seu cérebro conter processadores que lhe permitem saber, em tempo real, o quão distante está de proferir cócó) é a favor de uma diplomacia transparente, com uma ou outra cortina para ocultar coisas como planos de democratização. Também o Pedro Lomba - em quem Singer naturalmente se inspirou - escreveu há tempos que a transparência não pode ser total, sob pena de alguns fins paretianos deixarem de poder ser alcançados por dependerem de processos cuja publicidade colocaria em causa esses próprios fins. De qualquer modo, imagino, mais afinação menos afinação a transparência seria o caminho para melhorar a representação: seria informativa, encurtaria o espaço para corrupção e clientelismo na política, a 'vontade geral' poderia finalmente ser medida a pulso. O que não vi ainda escrito - e por isso achei que o mundo precisava deste meu esclarecimento à uma da manhã - foi um só textículo sobre as implicações da transparência para as atitudes políticas. Sabe-se que as notícias negativas sobre a governação acentuam o descontentamento dos eleitores face aos políticos, aos partidos, às instituições; por isso, a multiplicação de WikiLeaks por aí fora pode ajudar a erodir a confiança que sustenta o regime - se continuarem a ser utilizados como um «school report card that only reports when a student is sent to detention, plays hooky from class, or fails courses, but does not register when she earns As in her course». Não me apontem já as catanas: a transparência deve prevalecer, até onde possível; de pouco serve uma confiança baseada em ignorância. Mas a transparência apenas existirá se não for minado o sustento do regime: a confiança que o eleitorado nele deposita. Mais importante do que discutir que actividades devem manter o selo secreto ou ser divulgadas será imaginar graus de abertura, de transparência, implementáveis paulatinamente e confrontáveis com as reacções populares. Não faltam jardins e bernardinos para contar despojos.

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