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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

Ponto Final

Tiago Moreira Ramalho, 18.09.12

A Douta Ignorância termina aqui. A troco de um café (que nem chegámos a pagar) trouxemos o Bruno Vieira Amaral para esta brincadeira. Porque foi isso que isto sempre quis ser: uma forma de nos divertirmos com meia-dúzia de frases pontuais, fossem elas publicadas no blogue ou trocadas nas caixas de e-mail. Tentámos fazer coisas sérias, entrevistas e afins, mas o trabalho inerente a tudo o que não tem por vocação única o puro gozo sempre nos fez deixar cair os 'projectos'.

Dois anos e meio depois deixamos aos historiadores dos séculos vindouros uma colecção (sim, com dois cês, que este blog começou antes de Vasco Graça Moura debater o novo Acordo Ortográfico com a extraordinária Edite Estrela) de duas ou três prosas menos simpáticas, incontáveis prosas profundamente ofensivas e um potencial desagrado em alguns corações particularmente atacados pelas peninhas douta ou ignorantemente atrevidas. Isto para não esquecer o texto fundamental do BVA sobre caralhos. Para que continuemos a receber o acostumadamente fabuloso rendimento que sempre daqui retirámos, o link para os posts da Priscila será um contador de ad clicks do Google. Caso queiram contratá-la para o vosso blog, saibam que A Douta Ignorância SAD detém 65% do passe. Quanto ao resto, não sabemos se deixamos saudades, mas vamos ter algumas.

 

RPR

TMR

Macaquinho de imitação

Vasco M. Barreto, 18.09.12

Termina aqui a minha muito pontual participação. Agradeço ao Bruno o convite, lamento que a minha última contribuição substancial tivesse sido sobre retretes e espero que a equipa se reúna uma última vez para pensar o país diante de umas cervejas. 

 

 

 

Austeridade e consenso social

Rui Passos Rocha, 17.09.12

1) Portugal vinha sendo apresentado como um caso de sucesso: os políticos apresentavam medidas de austeridade para combater a recessão e elas tinham o apoio tácito de grande parte da população, ou pelo menos a sua aceitação apática. Grande parte dessas medidas, inscrita no memorando de entendimento (assinado por Sócrates e com a aprovação de Passos Coelho), seria tida como inevitável e o seu cumprimento desejável para que continuássemos a receber os empréstimos da troika e evitássemos qualquer das alternativas que, por imprevisíveis ou indesejáveis, eram vistas como piores do que a deterioração do modo de vida.

Também a deteriorar-se vinha a opinião pública sobre a classe política. A perda parcial e temporária de soberania na formulação de políticas públicas não significa que os eleitores transfiram para a troika a responsabilidade por má governação. Todas as medidas, mas em particular as que vão além da troika, assentam num consenso frágil que implica progressividade na contribuição - quem mais tem mais deve dar. Passos Coelho desbaratou parte da pouca confiança pública possível com nomeações dúbias para cargos públicos e com o apoio aos desmandos de Miguel Relvas. E, pior, anunciou uma reformulação da TSU que não só inverte a tendência progressiva da contribuição como também não tem efeitos óbvios e significativos para a melhoria económica do país.

Grande parte dos que se manifestaram no sábado não está necessariamente contra as medidas exigidas pela troika, mas rejeita perder dinheiro em nome de políticas que considera injustas e que, pior, duvida virem a contribuir para o fim deste estado de coisas. António José Seguro vai votar contra o Orçamento de Estado, apesar de quase tudo o que lá consta ser praticamente inegociável; aquilo pelo qual deveria votar contra o OE, e que motivará uma sua moção de censura, é a proposta de alteração da TSU. Também Seguro está disposto a quebrar o consenso mínimo para se distanciar de um memorando de entendimento do qual pouco poderá negociar se chegar a líder do governo.

2) Hoje demorei 45 minutos a atravessar parte da Avenida da República (do Saldanha à rotunda do Marquês de Pombal) de autocarro. Tive tempo de sobra para observar que os polícias de trânsito deram prioridade aos carros sobre os autocarros, o que faz todo o sentido se o que se pretende é reduzir o tráfego automóvel e incentivar o recurso aos transportes públicos.

Uma das consequências da austeridade é a deterioração dos serviços públicos, com cortes em gastos e em pessoal. Mas esses cortes - ou racionalização, se preferirem ver a coisa só com o olho esquerdo - devem ser o mais consensuais possível: percursos com menos utentes devem ser reorganizados, trajectos optimizados, etc. O que não faz sentido é limitar o acesso automóvel ao centro da cidade e ao mesmo tempo fazer com que alguém demore o triplo do tempo a chegar do Saldanha a Alcântara pagando quase o dobro do que pagava há dois anos.

Fernando Henrique Cardoso dizia há dias que tempos de austeridade exigem líderes capazes. Para que estes possam encontrar uma saída para a crise, dizia ele. E, acrescento, para que estes minorem o mais possível os efeitos nefastos dos cortes, que só serão aceites se forem justos e inteligentes. Coisa que faltou nos últimos dias.

Homem, há um mundo lá fora

Priscila Rêgo, 13.09.12

No Blasfémias, Rui Albuquerque baseia a sua argumentação contra o Governo numa evidência à vista de todos. Que é repetida tantas vezes que até fico com medo que alguém pense que é verdade. E daí insistir no tema.

 

O problema está em que, mais uma vez e à semelhança dos governos anteriores, este tem vindo a tomar medidas de fundo quase somente por via da receita, aumentando impostos que não têm servido para sustentar essas tais reformas necessárias a que te referes: a da estrutura operacional do estado (para o que conviria, de vez, definir onde o estado deve e não deve estar); dos custos salariais pagos para manter essa estrutura e as suas finalidades ditas sociais;

 

Sinto-me como o David Attenborough, quando desbrava a floresta e conduzia os telespectadores ao maravilhoso e desconhecido mundo da vida animal. Isto em baixo é a taxa de variação da despesa e receita: não tão exótico como os hábitos reprodutivos do coala australiano, mas aparentemente tão desconhecida como eles.  

 

 

Eu sei que o Rui, e muito boa gente, pensa, tem certeza, sabe e não tem dúvidas de que a consolidação vem toda da receita enquanto a despesa não pára de subir. Não tenho por isso expectativa de que estes gráficos (a fonte é a Comissão Europeia) o façam mudar de opinião.

 

Mas para quem está habituado a pensar com algum respeito pela realidade, talvez isto dê uma ajuda.

Diálogo imaginário

Priscila Rêgo, 12.09.12

O Estado não pode subir impostos para cortar o défice, tem é de cortar na despesa.

 

Porquê?

 

Porque subir impostos corta rendimento. Aprofunda a recessão.

 

Mas cortar despesa também. As pensões são despesa pública e rendimento de quem as recebe.

 

Mas eu falo da despesa da máquina do Estado, não é a despesa das pessoas.

 

Mas a máquina consome basicamente salários e bens e serviços, que também é rendimento dos funcionários públicos e das empresas.

 

Ah, mas eu falo da despesa supérflua: fundações, institutos...

 

Mas as fundações e institutos também fazem despesa em pessoas e bens e serviços. O dinheiro não é atirado ao mar.

 

Claro, mas se fecharmos fundações estamos a libertar recursos para o sector privado.

 

Sim, mas o efeito é o mesmo: aprofunda a recessão. São pessoas sem emprego e bens e serviços sem procura. No curto prazo, ninguém vai pegar nesses recursos.

 

Sim, sim, mas o Estado aprende a poupar no desperdício.

 

Mas isso também é válido para a subida de impostos. As pessoas não começam por cortar na comida. Vão ao desperdício.

 

Claro.

 

E então?

 

...

 

Hum?

 

Mas se aumentarmos impostos, estamos a retirar rendimento às pessoas.

 

 

 

 

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