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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

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Leituras criativas

Tiago Moreira Ramalho, 07.09.11

A Shyznogud faz uma interpretação algo, digamos, ‘livre’ das palavras de Vítor Gaspar. Porque se é certo que tudo o que cita está na entrevista dada, o problema são aqueles ‘(…)’, já para não dizer o que está atrás e o que está depois. Ora vamos lá analisar cuidadosamente o que disse o Ministro das Finanças ao Público, através da leitura integral da resposta:

 

O que pensa quando ouve as críticas que têm sido feitas, mesmo por membros dos partidos que formam o Governo, à vossa decisão de aumentar impostos e à inexistência de anúncios do lado da despesa?

Tem de se começar por reconhecer que é fundamentalmente diferente anunciar medidas de corte de despesa e efectivar cortes de despesa. O Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) parte do Orçamento de Estado (OE) para 2011. E esse OE de 2011, em conjunto com os documentos de execução que o acompanham e alguma medidas tomadas na

Primavera de 2011, dá lugar a um ajustamento previsto de 5,7% do PIB e, desses 5,7, o esforço está predominantemente do lado da despesa. Estamos a falar de 3,7% do lado da despesa. Isto corresponde a quase dois terços do esforço de ajustamento. Estes cortes na despesa estão a ser realizados e verificam-se mês após mês. Em 2011, há cortes de despesa todos os meses. E esta diminuição da despesa pública contrasta com o crescimento verificado em anos anteriores. Entre 2007 e 2010, a despesa total das administrações públicas cresceu mais do que seis pontos percentuais do PIB e ultrapassou em 2010 os 50% do PIB.

 

Fazendo uma pequena ficha de leitura ao pequeno mas pelos vistos quase impenetrável texto, quando o ministro acentua as diferenças entre anúncio e efectivação, não está a dizer que anuncia e não faz. Pelo contrário. Está a afirmar que a não existência de um anúncio não significa necessariamente a não existência de uma acção. Aceito que estejamos todos um pouco fechados no modelo antigo, em que se julgava que o anúncio público era por si só um acto performativo, mas algumas coisas mudaram nos últimos tempos.

Podemos atacar políticas, podemos atacar opções, podemos atacar curricula, se necessário. E neste momento, há muitas políticas, muitas opções e muitos curricula passíveis de, pelo menos, cuidadosa análise. Facto que me leva a espantar-me com a necessidade de criar, num processo próximo do artístico, matéria de discussão que à primeira leitura se revela confrangedoramente básica.

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