O meme socialista
Estava a ver o Prós e Contras. O programa tem um tema diferente todas as semanas, mas a estrutura é sempre a mesma. Alguns indivíduos, cheios de vontade de contribuir para o progresso do país, pedem ao Estado que lhes conceda os necessários apoios para que possam levar a cabo o empreendimento. A apresentadora abana com a cabeça e concorda com a necessidade de ajudar esses sectores e actividades - inevitavelmente "estratégicos" e "estruturantes", "inovadores" e "de alto valor social", todos eles "promotores de mudanças paradigmáticas" e por aí fora.
Pelo meio, criticam-se alguns outros sectores que estão a impedir o progresso da nação - hoje foram os hipermercados - e enaltece-se a juventude, coragem e ímpeto exportador destes jovens empresários. Faz lembrar vagamente o balneário de uma equipa derrotada: pá, somos muita bons; mas com este azar - e aquele árbitro - não vamos a lado nenhum. Tudo muito paternalista e assistencialista, como se a criação de riqueza fosse matéria de boa vontade. O problema nunca está no nosso produto, mas no mundo que não lhe reconhece a genialidade.
A certa altura, um senhor, cujo nome não fixei, citou um estudo segundo o qual em 2050 haverá falta de alimentos no mundo. Daqui ele extraiu que eram necessários mais apoios ao sector agrícola (que é estratégico e estruturante e está cheio de bons exemplos) para evitar a fome mundial. Mas este é precisamente um argumento para lhe retirar os apoios: se há pouco alimento, os preços sobem e o sector floresce. Não é que antes fossem justificados; mas pelo menos ainda passavam a título de transferências sociais.
Era de esperar que a estação pública tivesse uma apresentadora cujo domínio dos princípios básicos da economia lhe permitisse detectar pelo menos as falácias mais gritantes. Mas a RTP é uma estação pública que viveu durante anos fora dos mecanismos de mercado e às custas do dinheiro do contribuinte: as ideias que por lá circulam são as que os socialistas lá meteram. Os seus programas reproduzem essa cultura. Mostram a economia portuguesa como um gigantesco plano quinquenal em que cabe aos planificadores decidir o que produzir, como produzir e a quem entregar o produto. Quem faz o programa não imagina que há uma alternativa. Como poderia? Nunca viu nada diferente.