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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

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Feriados

Priscila Rêgo, 10.11.11

Imagine-se dois agricultores, cada um com uma plantação de 10 hectares. O primeiro cultiva, durante um ano, os primeiros nove hectares e deixa o último por cultivar. O segundo cultiva, no mesmo período de tempo, metade de todos os hectares. Fará algum sentido dizer que o segundo agricultor trabalha mais do que o primeiro, só porque consegue cultivar uma fracção maior do último hectare?

 

Não. O que é relevante para apurar a verdadeira quantidade de trabalho é a área total cultivada - independentemente da forma como o cultivo se distribui pelos vários hectares. Apesar de conseguir cultivar metade do último hectare, o segundo agricultor cultiva apenas cinco hectares por ano. Trabalha menos do que o primeiro, que cultiva nove por ano.

 

Isto parece simples. E é. Mas então por que é que há tanta gente a falar do número de feriados? O que conta efectivamente são as horas trabalhadas anualmente. Este indicador consolida num único valor todas as dimensões do esforço laboral: dias de feriados e de férias (legais), horário de trabalho (efectivo), dispensas e outro tipo de borlas. Entreguemo-nos de novo àquela actividade arriscada, pouco recomendável e heterodoxa que é olhar para os números em vez de lançar palpites, e o que descobrimos? Que Portugal já é um dos países europeus onde mais se trabalha (segundo a OCDE).

 

A redução do número de feriados pode fazer sentido se a produção que se perde for superior à produção média diária (o que não me parece uma hipótese estapafúrdia, se levarmos em conta que as interrupções de trabalho semanais podem "arrefecer o motor da máquina" - vejam este post o Fernando Alexandre). Mas isso também pode ser apenas uma justificação para que transforme alguns dos feriados em férias e se lubrifique o processo. Se a ideia é começarmos subir no ranking da produção através das horas trabalhadas, então pelo menos que se diga que estamos na liga dos burros de carga.

 

 

 

 

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