Consumir faz mal à tola?
Apesar de tudo, não parece que a sociedade de consumo esteja «em iminente desaparecimento», como acredita Bernard Stiegler [1] - que deve estar acompanhado por muitos outros. Mas isso não faz com que tudo esteja bem, inclusive em aspectos que não são muito debatidos.
Vamos lendo e ouvindo que desde que o neoliberalismo chegou ao poder não houve apenas crescimento económico, mas também um aumento da desigualdade de rendimentos - chegando mesmo a reduzir o salário médio nos escalões mais baixos enquanto aumentava exponencialmente os rendimentos dos mais ricos.
O que não lemos tanto, ou não lemos de todo (falo por mim, até há relativamente pouco tempo), é que desde o início da década de 80 e até ao virar do século a percentagem de pessoas com doenças mentais quase duplicou no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Austrália. Actualmente, entre os países do Ocidente são os países de língua inglesa que têm maior incidência deste tipo de doenças [2].
Isto é relevante, mas não torna «claro» que o «capitalismo egoísta, muito mais do que os genes, é extremamente mau para a nossa saúde mental», como defende o psicólogo marxista Oliver James (afinal, nos outros países europeus o aumento da incidência de doenças mentais foi bastante menor). Nem muito menos se extrai daí a certeza de que «altos níveis de doenças mentais são essenciais para o Capitalismo Egoísta, porque pessoas necessitadas e miseráveis tornam-se ávidos consumidores e podem mais facilmente ser workaholics competitivos e perfeccionistas» [2].
Uma das coisas que se sabem, contudo, é que as pessoas com um maior número de créditos bancários tendem a ter mais doenças mentais [3]:
Isto é interessante, mas não significa necessariamente que o maior consumismo faça mal à saúde mental. Por si só, o que parece dizer é que aqueles que recorrem ao crédito para consumir incorrem em encargos financeiros que lhes pesam a ponto de poderem resultar em doenças mentais.