O que há para MegaAplaudir*?
Agora que já temos redes de internet que cobrem inteiras áreas urbanas, já estivemos mais longe de acrescentar a internet à Declaração Universal dos Direitos do Homem. É inegável, por mais que se torça as estatísticas, que a internet tem servido para nos aproximar do ideal de Tólstoi Trótski de uma sociedade composta por inúmeros Aristóteles. Ainda não chegamos a esse aborrecido idílio, mas graças à internet somos cada vez mais inteligentes. Parece é que nem todos ganhamos com isso.
As indústrias discográfica e filmográfica dizem que a pirataria lhes rouba potenciais consumidores. Parece lógico: se bem que grande parte dos que descarregam conteúdos gratuitamente nunca os compraria, uma - mesmo que minúscula - parte provavelmente o faria. Mas há um exemplo curioso: o último álbum dos Radiohead, um dos mais vendidos de 2011, foi inicialmente disponibilizado na internet e com possibilidade de compra da versão mp3 por apenas 9 dólares.
As relações de causalidade aqui são nebulosas, mas uma coisa parece certa: que a pirataria tem ajudado a aumentar o número de potenciais consumidores - de música, de filmes, e também de livros. Com uma maior carteira de potenciais compradores, estas indústrias têm-se adaptado: já é possível comprar músicas em vez de álbuns inteiros; há cada vez mais livros em versão digital (como as edições para Kindle); e quanto ao cinema, bem, há colecções de filmes em DVD a preços inferiores ao custo de um bilhete de cinema.
Estas indústrias não estão a sofrer graves problemas económicos, mas sobretudo acreditam que perdem lucros potenciais. Nenhum lóbi convive bem com um mercado instável, sobretudo um que a internet torne tão volátil. Aumentado esponencialmente o número dos seus potenciais clientes, as grandes empresas parecem preferir o lucro fácil e certo. Mas com isso compram o descontentamento dos Aristóteles do torrent.
*Termo roubado a João Caetano Dias do Blasfémias.