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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

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Cães e Gatos

Bruno Vieira Amaral, 16.05.10

Nunca fui grande adepto de animais domésticos. Não faço parte da tribo de amantes de felinos, nem da tribo contrária, que se baba caninamente e que passeia o bóbi na rua e corre com o bóbi na praia. Aborrecem-me as loas à independência e altivez dos gatos, como se as qualidades que não toleramos num funcionário do BPI fossem aceitáveis num bicho. O gato não está a ser independente, nem altivo, nem nada. Está a ser gato, o que lhe exige pouca reflexão e deveria merecer ainda menos aplausos. Quanto aos cães, são simplesmente estúpidos. Toda a lealdade incondicional é estúpida. Lembro-me dos meus vizinhos que caridosamente albergavam em casa dezenas de cães e gatos. Contrabalançavam esta dedicação altruísta aos bichos com o mais profundo desprezo pelos seus semelhantes. Em vez de se humanizarem, como tantas vezes advogam os zoófilos, animalizaram-se. Rosnavam, lançavam impropérios e submetiam os vizinhos à tortura dos latidos e dos excrementos nas escadas do prédio. Não tinham filhos e acredito que parte do azedume tivesse origem nessa esterilidade, voluntária ou sofrida.

 

Se nós podemos exercer a nossa humanidade no trato com os animais, cuidando deles e amando-os, os animais não podem dar-nos mais do que companhia e um arremedo de afecto. Não nos podem servir de exemplo porque não se movem numa esfera moral. Extrair lições de humanidade do comportamento de um cão ou de um gato é apenas um defeito literário de espíritos carentes de parábolas e treinados nas personificações das fábulas. Cuidar de um animal pode ser, pelo desprendimento que revela, um dos mais elevados gestos morais. O resto, acreditar que o exemplo dos animais nos pode tornar mais humanos, é literatura sentimental.

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