Lavandaria Vaticano
Para o cardeal Saraiva Martins, o abuso de menores é roupa suja que a Igreja não deve lavar em público. É assim que as famílias fazem e a Igreja, que defende as famílias, deve imitá-las. É verdade que alguns responsáveis da Igreja comportaram-se como uma verdadeira família, no sentido Corleone do termo. Como não lavaram a roupa imunda em devido tempo, agora querem branqueá-la. Falam em conspirações contra a Igreja, como se tudo isto não fosse grave mas apenas o argumento de um mau romance. Há até quem relativize (note-se a ironia) afirmando que “todas as classes têm defeitos deste género”, ou seja, nada de exageros porque há padres pedófilos da mesma forma que há empregados de balcão pedófilos. Portanto, deixemo-nos de conspirações contra a Igreja e comecemos a exigir responsabilidades à Aresp. Reconheço, porém, alguma razão ao cardeal Saraiva Martins. Os actos e omissões de alguns membros do clero envergonham acima de tudo a família católica. Há milhões de católicos que exigem explicações, que conhecem a diferença entre um pecado e um crime, entre os homens que os cometem e uma instituição que os encobre. Para que a Igreja volte a exibir vestes menos encardidas perante os seus fiéis é essa, e apenas essa, a roupa suja que deve ser lavada em privado. Os tribunais que lavem o resto.