The other way around
Num ensaio de 2006, presente nesta recolha de ensaios, que, pelo preço, dez euros, deveria ser comprada por todas as pessoas de bem, o Professor Campos e Cunha propõe uma diferente abordagem ao problema do endividamento nacional. A tese central é a de que o nosso défice comercial não se deve a problemas de competitividade, salários elevados ou o que quer que seja, mas precisamente o contrário. O nosso défice comercial é causado, essencialmente, pelo aumento de transferências da União Europeia e pelo aumento de riqueza devido à baixa das taxas de juro, que levaram a distorções nos preços relativos entre bens transaccionáveis e bens não transaccionáveis e a aumentos de consumo que colocaram a economia a produzir mais destes últimos e, por consequência, menos dos primeiros. Ao consumirmos mais, produzindo, no entanto, menos bens transaccionáveis, criámos um défice comercial considerável. A pressão sobre bens não transaccionáveis, cujos preços são definidos internamente, levou a aumentos de inflação e de salários, como simples ajustamento. O que, na realidade, funcionou como uma apreciação da moeda funcionaria, caso tivéssemos uma.
A tese é interessante. Por um lado, vai completamente contra tudo aquilo que é dito pelos consensuais colunistas e opinadeiros. Por outro, é sustentada com argumentos económicos dificilmente atacáveis. Se o Professor Campos e Cunha estiver correcto, a consequência básica é que todo o discurso repetido sobre competitividade, apoio a empresas, a sectores, etc., resulta em pouco mais que nada para reduzir o défice comercial.