Livre-arbítrio [2]
A própria ideia de uma personalidade é anti-cristã: o cristianismo refere expressamente que todo o homem tem uma alma indivisível, em contacto com o Supremo, a qual deverá por aprendizagem terrena apropriar-se da moral divina e sustentar as atitudes humanas. O Homem moderno, porém, estimula a sua personalidade, mesmo crendo na existência de uma ou, como escreve Tabucchi no Sostiene Pereira, de mais de uma alma dentro do corpo - sendo que, nesse caso, haveria uma alma hegemónica hoje e outra, possivelmente, amanhã. Uma ideia - esta das múltiplas almas - que não é mais do que a de personalidade, um conceito que esvazia o poder moral da religião.