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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

Marketing

Bruno Vieira Amaral, 08.08.10

A onda pró-bolaño, cujo clímax português ocorreu por altura do lançamento de 2666, não é mais carneirista, imbecil e cansativa do que a onda anti-Bolaño que parece ter dado à costa agora. Não falo de apreciadores e detractores genuínos. Esses terão as suas razões. Os outros, os que surfam as ondas, têm ambos aspirações elitistas fundadas quer na superioridade do gosto e do embevecimento parolo com tudo o que é reconhecido no estrangeiro, quer na recusa mal-humorada de uma obra literária que acreditam ser impingida pelo marketing. No fundo, são sentimentos gémeos que encontram casa na disponibilidade de alguns para gritar periodicamente “Genial!” e na de outros para encolher os ombros e suspirar “Eu cá gosto é de ler mortos”, como se entre Goethe ou Cervantes, Rabelais ou Flaubert, Faulkner ou Pearl S. Buck não houvesse nenhuma diferença para além de terem morrido há muitos anos. Leiam. Leiam muito. Leiam a merda e os génios, leiam a merda dos génios, porque os génios também metem a pata na poça, desistam de livros a meio, releiam se já nada vos convence, mas leiam muito, sempre. E deixem o Bolaño em paz (leiam-no ou não, mas poupem-no às vossas guerras provincianas), que pode não ser tão bom como acreditam os admiradores, mas também não é tão mau como o pintam algumas “fashion victims” às avessas – não há criatura mais influenciável pelo marketing do que aquela que recusa um produto apenas por estar farta dos anúncios.

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