Cinema Lusitano
“Portugal é o único país do mundo onde não é grave um filme apoiado pelo Estado fazer dois espectadores", afirma o realizador António Ferreira, em declarações ao Público. O Estado financia e em troca exige nada. Aquele Querido Mês de Agosto, do realizador Miguel Gomes, recebeu um subsídio de 650 mil euros, fez 20.164 espectadores e uma receita bruta de 90 mil euros. Foi considerado um êxito. Se isto é um sucesso, imagine-se o resto. Com a desculpa de que nenhum filme se paga sozinho, criou-se em Portugal uma cultura de desprezo pelo espectador. Os espectadores respondem na mesma moeda e ignoram os filmes portugueses, à excepção daqueles em que a narrativa se confunde com as mamas da Soraia Chaves (infelizmente sem direito aos longos planos de Manoel de Oliveira). Qualquer realizador aprende rapidamente que o cinema português só existe com a ajuda do Estado. É uma lição incompleta. O cinema, seja português, chinês ou do planeta do Edgar Pêra, só existe com espectadores. Desprezá-los é contribuir para fazer do cinema a mais dispendiosa variante da masturbação: um prazer solitário que não é visto por ninguém.