Não tenho título pra isto, porra
Tem razão quem diz que não há mais esquerda nem direita. Ontem, por exemplo, foi-me extorquido um preço de direita para entrar numa festa de esquerda, ali no Gulag do Seixal. Por sorte, posso já enviar a factura dos 16,5€ ao Clube das Repúblicas Mortas, sociedade científica que me convidou para o trabalho de campo. O objectivo era simples: comprovar a mais que lógica tese do Henrique Raposo (no último Expresso) de que boa parte do desempenho eleitoral do PCP se explica pela antipolítica, o oposicionismo a tudo o que é sabiamente centrista na centrista estrutura política ocidental. Centrismo esse que é, pelo contrário, tão pró-político que até para mobilizar as jotas não faltam notas de 50€. Ainda dizem que os partidos não dão nada a ninguém. Pelo contrário, a massa anti-sistémica é tão raivosa que até se dispõe a passar uma quinzena a trabalhar, sem nada lhes encher os bolsos, para uma festa partidária. E lá estão eles, no último dia de pena no campo de concentração, pela quinquagésima vez a saltar e assobiar a Carvalhesa, braços entrelaçados, sorrisos e beijos. Como é antipolítica a última marquise estalinista da Europa. São eles a praga da democracia, do sentimento de pertença a um colectivo e um ideal, esses descontentezinhos cujos representantes parlamentares, demagogia das demagogias, se ficam pelo salário pré-parlamentar. São antipolíticos, porque político é quem é sistémico. Eles, que orbitam fora da caixa, são os do contra, os do discurso destrutivo. São um empecilho. Sem eles, quantas mais notas de 50€ haveriam para jotinhas engravatados.