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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

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Como um romance

Tiago Moreira Ramalho, 09.10.10

Aquele que vos escreve, o que, trocado por miúdos, quer dizer a minha pessoa, não suporta, deixem que vos diga, ler, numa qualquer crítica de um qualquer crítico, a expressão «lê-se como um romance». Não sabemos – plural majestático, como deveríamos usar sempre quando falamos de nossas majestades – quem inventou a expressão, mas podemos seguramente ajuizar de imediato que o ser, que não sabemos sequer humano, era um perfeito idiota. A expressão parte do pressuposto triste que a forma de ler romances é sempre igual e que os romances podem ser agregados todos num Romance de características reconhecíveis em todos os de letra minúscula. Let me give you some news: há romances que se lêem de um trago, quando temos tempo para um trago, e romances que dificultam a digestão, mesmo que passemos a tarde a roçarmo-nos na napa do sofá; há romances que nos assombram, há outros que nos iluminam; há romances que lembramos invariavelmente, há romances que acabamos de ler por mera obrigação e por irracional respeito ao objecto em si. A lista poderia continuar, mas para tal seria necessária imaginação da nossa parte e não estamos para aí virados. O ponto é que os meus grandes queridos, antes de usarem a expressão «lê-se como um romance», deveriam pensar em ler mais do que um romance. Digamos que dois ou três, se bem escolhidinhos, já davam para perceber a enormidade que é a coisa.

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