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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

Civil e criminalmente

Tiago Moreira Ramalho, 06.11.10

Existe uma ideia comum no círculo político (e que, infelizmente, não é rebatida pelos economistas que lá andam, o que significa, grosso modo, a totalidade deles) que é a de que a economia nacional é como que um boneco de plasticina ao qual podemos fazer o que quisermos. Julga-se por aí que o desemprego é o que o homem quiser, que a inflação é o que o homem quiser, que o próprio PIB é o que o homem quiser. Tudo isto, claro, é aborrecidamente errado.

Se é certo que é possível, de algum jeito, manipular as flutuações da economia, a fim de se atenuar ciclos e toda essa conversa que a gente já conhece, o facto é que a economia, por muito racionais que sejam as expectativazinhas dos governos, tem um comportamento, no limite, incerto. Não sabemos até que ponto não pode ocorrer algo, cá ou lá, que altere o cenário de uma forma completamente imprevisível. É por isso que é absurdo que se inscreva na Constituição limites ao défice ou à dívida, do mesmo modo que é absurdo responsabilizar ‘civil e criminalmente’ os governos, deputados ou Presidentes da República quando os resultados económicos ou os objectivos orçamentais não são atingidos.

Queremos, porque somos essencialmente boas pessoas, acreditar que Passos Coelho não fez por mal. Mas começamos a achar que, a bem da decência, e para que ele possa continuar a ‘andar de espinha direita’, o senhor se deveria abster de fazer tais propostas. Ou pelo menos deveria aconselhar-se melhor, que assim só nos resta o abanar de ombros acompanhado pelo lamentável grunhido.

 

Adenda: Digamos que andamos chatinhos, mas a verdade é que este texto da Fernanda Câncio está, digamos assim, bom:

 

«aquilo que oiço pedro passos coelho dizer sobre governantes que tenham 'maus resultados económicos' -- uma coisa que, por acaso, não está na proposta de revisão constitucional do psd, mas em calhando só tem de estar na proposta de revisão do código penal do psd, a suivre -- é um programa de governo.

o que passos coelho está a dizer é que, enquanto primeiro-ministro, a sua principal preocupação, et pour cause (não querer ir preso, para começar) seria ter 'bons resultados económicos' -- custe o que custar, implique o que implicar, esteja a economia mundial como estiver. é uma feliz coincidência que tenha ocasião de se encontrar hoje com o presidente da china, pessoa com a mesma religião e que tão profícuos conselhos lhe pode dar nessa matéria.»

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