A campanha
Há uma espécie de burburinho nas ruas falsamente indignado com o facto de boa parte do discurso desta campanha não ser sobre Política, mas sobre os políticos. Em primeiro lugar, a indignação é mera pose. Em Portugal, discutimos, e não é de agora, o carácter dos políticos como os americanos. Mas ao contrário dos americanos, não usamos a discussão para decidir se os queremos ou não. Usamo-la para simples divertimento fofoqueiro nos cafés de esquina. E como qualquer fofoqueira que se preze, negamos o epíteto e, em momentos de pronunciada altivez, até fingimos desinteresse pela casa do Algarve, pelas declarações ao Tribunal Constitucional, pelas acções do BPN ou pela campanha para o BPP.
O facto é que discutir os carácteres dos políticos e vasculhar os seus eventuais telhados de vidro é bom. O chefe máximo da hierarquia do Estado e do Exército deve ser, digamos de jeito carinhoso, cá de casa. Temos de lhe saber tudo quanto pudermos, porquanto só confiamos em quem conhecemos bem. O que diferencia a civilização da barbárie é o propósito de tal investigação: se uma decisão política, se uma conversa picante com a vizinha do terceiro esquerdo. E não me parece que haja muitas dúvidas quanto ao nosso.