Egoísmo intergeracional
O nosso primeiro-ministro, que lê Keynes como quem lê o Borda d’Água, julga que nada há de errado com a existência de défice porque, nas suas próprias palavras, faz sentido que as gerações futuras ajudem a pagar aquilo que nós, voluntaristas, andamos a construir e que também será usado por elas. Sendo certo que o argumento é duvidoso – afinal, é materialmente impossível saber se as «gerações futuras» querem que nós andemos a construir comboios catitas –, pode ser, até certo ponto, aceitável. O que não é aceitável é manter as gerações futuras a pagar recorrentemente o nosso défice primário, que só nos diz respeito a nós, aos nossos gastos, às nossas necessidades – é a educação, a saúde, a segurança desta geração, não da próxima. Lamentavelmente, somos essencialmente egoístas intergeracionais: impomos à geração futura que pague aquilo que é para seu uso e, além disso, ainda a obrigamos a pagar aquilo que é para nosso exclusivo benefício.