À falta de microscópio...
Não tenho, sosseguem, problema nenhum com sociólogos politizados publicamente. Não acho que falte discernimento no trabalho de André Freire ou de Boaventura Sousa Santos - bem pelo contrário, aliás. O que acho - e quanto a isso peço-vos o cuidado de não me penetrarem por trás sem o meu prévio consentimento - é que tem tanto mais mérito quem menos entrevê as respostas às suas perguntas no início da investigação. Porque procura alcançar algo superior a si; porque, olhem só, quer investigar. E merdas dessas parecem-me ausentes nos dois casos. Por exemplo, Freire decidiu em 2003 legar ao mundo um paper onde descreve quão voláteis (e consentâneas com o desempenho económico do país) são as atitudes políticas dos portugueses e conclui, assim do nada, que é «urgente» reformar o sistema eleitoral para um mais proporcional. Porquê? Porque sim; porque é mais democrático; porque, percebe-se, assim os pequenitos sobem mais. Por sua vez, em entrevista ao Jornal de Letras (as merdas que eu leio), Boaventura convidou a Europa a olhar-se ao espelho, que espero não seja o seu, já que se diz «cientista» apesar de, tal como Freire, ser um socialista à Bloco (o Eugénio Rosa pelo menos trabalha para a CTGP). Segundo Boaventura, «o mal foi o positivismo ter acoplado a ideia de neutralidade (que confunde com a de objectividade) à ideia de especialização e de profissionalização». O tema merece debate; entretanto, passo a chamar «cientista» à Alexandra Lucas Coelho e a metade da redacção do Expresso.