David Ricardo vs. Vieira da Silva
O Governo português, e o ministro da Economia em particular, referem frequentemente o facto de as exportações portuguesas terem cada vez mais conteúdo tecnológico (sem link, que não tenho pachorra). Hoje, no I Congresso para as Exportações, houve nova sessão de doutrinação. São as forças de mercado a submeterem-se às linhas estratégicas delineadas pelo Governo. Sócrates sonha, Vieira da Silva faz, a obra nasce. Uh...
Acontece que este resultado não é especialmente surpreendente. A abertura do comércio a Leste colocou Portugal a concorrer com economias especializadas em produtos de baixo preço (a China é o maior exemplo). Isto criou dificuldades às empresas que competiam nessa divisão. Mas abriu um mercado enorme a todas as outras que jogavam numa divisão acima, aumentando a procura pelos seus produtos. Não é sapiência. É o mercado.
E isto é a nossa maior tragédia. Os tipos que definem as grandes linhas da política económica nacional, que gizam os planos de investimento, que escolhem as prioridades, alocam recursos e mexem os cordelinhos ainda não conseguiram perceber uma das ideias mais antigas da economia: o conceito de vantagem comparativa. Citam Krugman e Stiglitz sem terem percebido Ricardo.