Chafurdar no fundo do poço
Num tempo em que as línguas ficam carecas de repetir tantas vezes a palavra «troika», o novo vocábulo modernaço da comunicação social lusa, os portugueses, um povo de inteligência superior, de uma astúcia rara, de uma capacidade analítica inabalável, de uma estrutura moral sem igual, de uma capacidade de trabalho sem precedentes, receberam, por serem tão especiais nas suas especialidades, uma tarde de folga. Pois é. O Fundo Monetário Internacional está em Portugal, somos motivo para a ascensão da extrema-direita xenófoba numa série de países, não sabemos se vamos ter salários, pensões e subsídios de natureza diversa no próximo mês, mas damo-nos o luxo de uma tarde sem trabalhar. Isto numa véspera de feriado que é, por sua vez, na véspera de um fim-de-semana. Estamos a precisar, será, provavelmente, a justificação. Cansamo-nos tanto a levar no lombo dos jornais internacionais, da opinião pública internacional e das instituições financeiras que nem a inteligência, a astúcia, a estrutura moral e a capacidade de trabalho, que em nós são sem dúvida superiores, resistem. Dê-se o descanso ao guerreiro. Pode ser que se lembre de guerrear quando acordar e à volta seja tudo mato e morte.