Elementos patológicos [2]
O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, candidato pela terceira vez consecutiva ao lugar, ‘não gostou’ de uma pergunta que um cidadão lhe fez. Um cidadão, depois de enunciar as vitórias do governo, disse que a realidade se cingia ao singelo facto de as palavras do primeiro-ministro que se candidata pela terceira vez não combinarem da melhor forma com os seus actos, porque, como muito bem apontou, perdemos competitividade nos últimos anos. O primeiro-ministro, desagradado, diríamos irritado, atirou-se para a frente, desajeitando a gravata que prontamente arrumou, não fosse o técnico dizer que ficava melhor da outra maneira, e disse que nos primeiros dois anos do primeiro governo, resultado daquela longínqua primeira candidatura, o país cresceu. Orgulha-se, o primeiro-ministro, de dois anos muito, muito bons, apesar de nos últimos quatro não ter grandes motivos para se orgulhar. Lembra a música do Neil Hannon, Lady of a Certain Age, que se gabava dos tempos em que se passeava pela Côte d’Azur, depois de lhe encherem o copo de bebida, apesar de agora estar abandonada pelo marido, que foi para a amante, e pelo filho, que foi para Zurique. Desculpa-se, o primeiro-ministro, com a crise internacional, argumento fraco, simples falácia, porque se a crise é internacional, então afectou o mundo em geral e se Portugal não teve nem mais nem menos impacto do que tiveram os outros países, então o défice comercial não deveria ter crescido – digo eu, que destas coisas percebo pouco.
Mas mais do que o conteúdo, reina a forma, aqui. O primeiro-ministro de Portugal, candidato pela terceira vez consecutiva, continua como na primeira candidatura: um ser vaidoso e arrogante, de uma retórica inatacável, apesar de fundamentalmente oca e, mais do que tudo isto, profundamente desconhecedor dos mais elementares e basilares princípios de um regime democrático. Porque a questão é clara como água: um primeiro-ministro não tem de gostar de perguntas; um primeiro-ministro tem de lhes responder.