O povo ofende-se, e sem razão, quando o restante povo, que no caso sou eu, se queixa, ainda para mais publicamente, da falta de trabalho no geral e, também, porque não somos esquisitos, no particular. Vem mais este espectacular post a propósito das quatro, repitamos, quatro, com entoação de coro de Igreja, quatro tardes que eu, que existo em carne e osso, perdi em Lojas do Cidadão da nossa adorada Lisboa. Sexta-feira, um, o sistema arrebentou e uma senhora francamente mal-educada, de vida mal resolvida olhava com desdém para todo o qualquer cidadão que entrasse na Loja, que nome tão horrível, especialmente para aqueles que por acasos do destino tinham a sorte ou o azar de, enfim, ter a pele um pedacinho mais escura. Puta. Segunda-feira, dois, voltei. A afluência, diziam, era grande e nem senha me deram. Nem senha, nem desculpas, nem nada: adeus ó vai-te embora, que nós aqui marimbamo-nos para o tempo que perdes nas viagens. Terça-feira, três, mais uma tarde, tarde inteira, mas consigo ser atendido. Não me dão tudo. Que eram precisas autorizações e mais não sei o quê. Obrigado, boa tarde. Quarta-feira, quatro, repitamos, etc., consigo tratar de tudo e descubro que o pouco que tratei na terça-feira, três, estava mal tratado. Ainda assim, convém notar que, enquanto estes ossos e esta carne, que eu tenho, que eu tenho, esperavam, deram-se ao luxo da tristeza de constatar que havia seis mesinhas de atendimento, mas os empregados tinham o desplante de ter apenas uma senhora a atender, enquanto todos se divertiam com graças, tricas sobre as férias, cafés na mão, ai que gargalhada, ai que otários aqueles ali a olhar para nós, como se tivessem vida, família, trabalho, livros para ler e filmes para ver, até me dói a barriga. Estive quase, mas quase, para fotografar, filmar, qualquer coisa, mas depois lembrei-me que havia leis e assim. Qualquer dia vou ver os senhores da Loja do Cidadão na rua por qualquer motivo, a gritar e assim. Nessa altura, dobro um braço, bato com a mão no bícepe e, para finalizar, levanto o dedinho do meio, à zé povinho.
Entretanto, porque sou uma pessoa atenta às artes e às culturas, reparei que a nossa ministra que mais coisas publica publicou uma coisa nova. Chama-se «Uma Aventura no Pulo do Lobo». Sempre me pareceu que a dona Alçada, minto, mas não faz mal, sempre me pareceu, mentia eu, que a dona Alçada era cavaquista ferrenha. Aliás, ainda não saltou para a blogosfera porque a Caminho, que mudou de gerência, já não de compraz com os direitos do proletariado e, e bem, manda-a trabalhar. Sim, trabalhar, que escrever é outra coisa.