...há falta de salas. Aqui.
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Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade
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Quase todos os comentadores e analistas dão José Sócrates como um dos derrotados destas eleições. Eu não vou dizer que Sócrates foi um dos vencedores, mas foi significativa a forma rápida e indolor com que a derrota foi assimilada. Parecia aquela tristeza fátua que sentimos pela morte de um parente afastado: evidentemente a notícia não dá para desatarmos aos pulos e, por hábito e decoro social, manifestamos uma discreta comoção, um semblante vagamente pesaroso. Este foi o Sócrates de ontem à noite. Despediu-se do tio-avô sem dramas e vamos lá falar do que aí vem, que o povo quer é estabilidade. O discurso de Passos Coelho foi muito inteligente, mas Sócrates, uma vez mais, mostrou que é um verdadeiro animal político e que ainda é muito cedo para lhe fazerem o funeral.
Miguel Gaspar, no Público: "Nobre celebrou uma votação surpreendente, com sabor a vitória. Mas a festa parecia mais a de um grupo de auto-ajuda do que outra coisa." De facto. Agora que se provou que há espaço para candidaturas presidenciais fora do espaço partidário, espero que as próximas sejam mais profissionais e protagonizadas por pessoas politicamente mais hábeis. Nobre pode reclamar uma vitória moral, mas em política, como no resto, essas vitórias não contam para nada - Alegre devia ter percebido isso. Aliás, este resultado de Nobre serve apenas para dar visibilidade a múmias do politicamente correcto, como Luís Osório, e a outros bem-intencionados profissionais (casal Represas), embrulhados numa névoa de optimismo laurindalvesco. A cidadania tem de ser mais do que isto. Esperamos que, daqui a cinco anos, a "sociedade civil" encontre um candidato para ganhar e não outro São Francisco de Assis.
Há uma espécie de burburinho nas ruas falsamente indignado com o facto de boa parte do discurso desta campanha não ser sobre Política, mas sobre os políticos. Em primeiro lugar, a indignação é mera pose. Em Portugal, discutimos, e não é de agora, o carácter dos políticos como os americanos. Mas ao contrário dos americanos, não usamos a discussão para decidir se os queremos ou não. Usamo-la para simples divertimento fofoqueiro nos cafés de esquina. E como qualquer fofoqueira que se preze, negamos o epíteto e, em momentos de pronunciada altivez, até fingimos desinteresse pela casa do Algarve, pelas declarações ao Tribunal Constitucional, pelas acções do BPN ou pela campanha para o BPP.
O facto é que discutir os carácteres dos políticos e vasculhar os seus eventuais telhados de vidro é bom. O chefe máximo da hierarquia do Estado e do Exército deve ser, digamos de jeito carinhoso, cá de casa. Temos de lhe saber tudo quanto pudermos, porquanto só confiamos em quem conhecemos bem. O que diferencia a civilização da barbárie é o propósito de tal investigação: se uma decisão política, se uma conversa picante com a vizinha do terceiro esquerdo. E não me parece que haja muitas dúvidas quanto ao nosso.