O post anterior mostra o desemprego bruto. Não é de estranhar que Gestão, Direito e Economia tenham muitos desempregados: estes são também os cursos que produzem mais licenciados. Mas a qualidade de um curso mede-se pela probabilidade de ele garantir um emprego (taxa de emprego, que é um rácio), não pelo número de empregados que ele vai produzir.
A melhor forma de chegar a este indicador é cruzar o número de licenciados com o número de desempregados. O relatório do GPEARI faz isso, fornecendo um quadro com a) o número de diplomas passados nos últimos três anos por cada curso; b) o número de inscritos nos centros de emprego formados nos mesmos cursos ao longo do mesmo período. E dá um bónus: explica se os inscritos estão à procura de primeiro emprego e e há quanto tempo estão inscritos.
Isto permite calcular uma taxa de desemprego tosca. É um número meramente indicativo, porque, em princípio, nem todos os desempregados estarão inscritos nos centros de emprego. E há que relativizar a sua importância, já que não fornece nenhuma informação acerca das condições dos licenciados que efectivamente estão empregados.
Este problema pode ser exacerbado por uma curva de Laffer de inscrição em centros de emprego algures aqui no meio: os licenciados em cursos com muito pouca saída podem sentir-se muito mais pressionados a aceitar empregos não diferenciados, já que têm menos perspectivas de encontrar emprego na respectiva área de estudos, o que distorce comparações entre licenciaturas. Ainda assim, é uma base de partida.
O primeiro gráfico de baixo mostra a taxa de desemprego de alguns cursos, incluindo a sua posição relativa na classificação geral. Coloquei os primeiros, os últimos, a média e alguns que, apesar de não se destacarem, são frequentemente apontados como pontos críticos de desemprego jovem (Direito e Arquitectura, por exemplo). O segundo gráfico apresenta a taxa de desemprego das várias áreas científicas.
![]()
![]()
Dois comentários a fazer. Em primeiro lugar, Direito e Arquitectura estão longe de ser o antro de desemprego que se ouve por aí. Estão pior do que a média, mas não estão sequer no pior tercil da tabela. A isto não deve ser alheio o facto de serem áreas dominadas por fortes corporações. Vou arriscar: dentro de alguns anos, o discurso que vemos agora ser aplicado a estas duas áreas passará a ser igualmente dirigido à Economia. Por enquanto, a Ordem ainda é recente (1998) e não deixou os tentáculos alastrar.
Em segundo lugar, há de facto uma diferença enorme nas taxas de desemprego das áreas das Ciências Duras e as mais “molinhas”. A linha “Total” (equivalente à média) divide o gráfico precisamente em duas metades: na de cima estão as Ciências Socias, Artes, Letras, Economia e Direito; na de baixo, Matemáticas, Engenharias e Saúde. É sete vezes mais provável um licenciado em comunicação (jornalismo, marketing, relações públicas e afins) estar desempregado do que um licenciado em informática.
É possível fazer uma brincadeira adicional. Utilizando os dados do GPEARI, calculei uma “taxa de desemprego agudo”. O primeiro valor é apenas a taxa de desemprego de longa duração aplicada aos jovens. Apenas retirei um ano ao denominador, já que não faria sentido levar em conta os licenciados que terminaram o curso há menos de um ano. O segundo valor é a percentagem de jovens que estão à procura do primeiro emprego – ou seja, que ainda não tiveram qualquer experiência laboral.
Eu evitaria interpretar estas números como taxas efectivas de desemprego, já que os valores apresentam incongruências substanciais relativamente aos dados do INE. Mas os diferenciais entre cursos, penso, podem ser utilizados de forma segura. Que é, ao fim e ao cabo, o mais interessante.