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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

Compreender não é desculpar

Priscila Rêgo, 26.05.11

Um dos traços mais marcantes deste Governo é a forma como banalizou a mentira. Mentiu acerca do défice orçamental, da instrumentalização da Segurança Social para comprar dívida pública, das empresas públicas, da TSU, da PT e da TVI e acerca de mais alguns casos menores. Outro dos traços distintivos deste Governo é a forma como conseguiu criar uma cultura de engodo a que todos os que giram na sua órbita parecem aderir quase que por inércia. Almeida Santos já fez o frete, agora foi a vez de Francisco Assis.

 

É tentador pensar que esta cultura resulta exclusivamente da personalidade do primeiro-ministro. Mas, apesar de Sócrates parecer de facto alguém com uma relação muito particular com a verdade, é improvável que conseguisse virar do avesso todo um partido. Uma explicação alternativa é que o PS acabou por sucumbir ao sucesso da sua máquina de informação. Para um mentiroso, o benefício de mentir e o custo de dizer a verdade são tanto maiores quanto mais mentiras tiverem sido ditas. O sucesso das primeiras pequenas mentiras acabou por tornar praticamente inevitável seguir a mesma estratégia durante o resto do tempo. É um processo autocatalítico.

 

Talvez Sócrates não seja tão mentiroso quanto pensamos, mas apenas um pequeno aldrabão que se tornou vítima do seu próprio profissionalismo. As suas acções são racionais e compreensíveis. Independentemente disto, nas próximas eleições cabe aos eleitores dizerem que, apesar de compreensíveis, elas não são aceitáveis. Aquilo que cada um escrever no boletim de voto sinalizará aos políticos de hoje aquilo com que os eleitores estãrão, ou não, dispostos a compactuar amanhã.    

Ganhar o debate

Tiago Moreira Ramalho, 21.05.11

Não percebo, por manifesta inabilidade minha, esse conceito de ‘ganhar debates’. Um debate não se ganha nem se perde porque um debate é um confronto de ideias e não há ideias vitoriosas e ideias perdedoras. Há ideias. Com umas concordamos, com outras nem tanto. Independentemente disso, meus caros, quem ‘ganhou’ ontem, signifique isso o que significar, interessa pouco ou nada. Dia 5 conversamos.

Elementos patológicos [3]

Tiago Moreira Ramalho, 20.05.11

Há por aí uns quantos pseudo-cientistas que advogam uma espécie de pseudo-ciência sobre linguagem corporal. Segundo a ‘doutrina’, há um sinal que evidencia, desde tenra idade, a mentira: tocar na boca. As crianças tampam-na, os jovens tocam-lhe, os adultos, principalmente os experimentados, brincam com ou à volta dela. José Sócrates, ao longo de todo o debate, não consegue evitar brincar com os lábios, apertando-os com os indicadores nervosos. E é nestas alturas que começo a acreditar que a ciência pode ter mais braços do que se imagina.

Elementos patológicos [2]

Tiago Moreira Ramalho, 20.05.11

O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, candidato pela terceira vez consecutiva ao lugar, ‘não gostou’ de uma pergunta que um cidadão lhe fez. Um cidadão, depois de enunciar as vitórias do governo, disse que a realidade se cingia ao singelo facto de as palavras do primeiro-ministro que se candidata pela terceira vez não combinarem da melhor forma com os seus actos, porque, como muito bem apontou, perdemos competitividade nos últimos anos. O primeiro-ministro, desagradado, diríamos irritado, atirou-se para a frente, desajeitando a gravata que prontamente arrumou, não fosse o técnico dizer que ficava melhor da outra maneira, e disse que nos primeiros dois anos do primeiro governo, resultado daquela longínqua primeira candidatura, o país cresceu. Orgulha-se, o primeiro-ministro, de dois anos muito, muito bons, apesar de nos últimos quatro não ter grandes motivos para se orgulhar. Lembra a música do Neil Hannon, Lady of a Certain Age, que se gabava dos tempos em que se passeava pela Côte d’Azur, depois de lhe encherem o copo de bebida, apesar de agora estar abandonada pelo marido, que foi para a amante, e pelo filho, que foi para Zurique. Desculpa-se, o primeiro-ministro, com a crise internacional, argumento fraco, simples falácia, porque se a crise é internacional, então afectou o mundo em geral e se Portugal não teve nem mais nem menos impacto do que tiveram os outros países, então o défice comercial não deveria ter crescido – digo eu, que destas coisas percebo pouco.

Mas mais do que o conteúdo, reina a forma, aqui. O primeiro-ministro de Portugal, candidato pela terceira vez consecutiva, continua como na primeira candidatura: um ser vaidoso e arrogante, de uma retórica inatacável, apesar de fundamentalmente oca e, mais do que tudo isto, profundamente desconhecedor dos mais elementares e basilares princípios de um regime democrático. Porque a questão é clara como água: um primeiro-ministro não tem de gostar de perguntas; um primeiro-ministro tem de lhes responder.

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