Indecências
Será, com certeza, um mal meu, mas a corrente que por aí circula indagando a comunidade blogosferante sobre livros e leituras não me agrada. Perguntar, muitas vezes a pessoas que nunca tivemos sequer a decência de conhecer pessoalmente, sobre os livros que se leu, os livros que se leria, os finais que não se esqueceu e coisas de natureza similar é o mesmo que perguntar sobre conquistas amorosas ou contas bancárias. Da mesma forma que o sedutor que acumula conquistas gosta de deixar no seu rasto uma reputação de grande amante, sem, no entanto, falar explicitamente de quem amou ou de quem deixou que o amasse, o leitor compulsivo gosta que essa aura o rodeie, sem, no entanto, se submeter aos inquéritos invasivos e, além disso, públicos sobre as suas ‘conquistas’. Perguntar a um amante de literatura qual o livro que nunca leu é como perguntar ao Casanova pela mulher que nunca lhe permitiu safadeza; perguntar a um rato de biblioteca qual o livro que leria para o resto da vida é como perguntar ao Camarinha pelo tamanho da pila. Haja decoro.