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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

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Os Legados

Tiago Moreira Ramalho, 06.12.11

No país do ódio, como o Henrique Raposo lhe chamou um dia, não é de estranhar que no meio da desgraça invistamos naquilo em que a nossa vantagem comparativa é mais sonora: desviar a atenção para um problema distante, para uma culpa alheia. E se isto pode ser aceite em pequenas doses (hábitos culturais, tolerância, piedade, talvez), há alturas em que marcas perigosas são ultrapassadas e nós estamos perigosamente perto de ultrapassar uma.

Evocar o legado Nazi para descredibilizar a Alemanha, reclamando que também eles, esses assassinos em massa na reforma, foram perdoados de dívidas, que nunca compensaram aqueles que às suas mãos sofreram, que foram auxiliados pelo Ocidente inteiro em época de desgraça, para justificar o nosso mau comportamento é politicamente infantil. Aliás, atrevo-me a dizer que é infantil ponto.

Não é preciso ser um génio antropológico para deduzir que a geração com quem lidamos hoje não é a que causou todos esses males, salvo raras excepções de particular longevidade. É ridículo, portanto, limpar uma culpa que é nossa de uma culpa que não é deles.

Além disso, é estranho que as nossas revoltas anti-nazi só agora se revelem. Onde andaram esses palavrosos defensores dos direitos dos judeus há quatro ou cinco anos atrás? Porque é que só agora que estamos num conflito de interesses com a Alemanha é que os intelectuais pátrios se lembram que a Schuld ainda não foi paga? Por favor, evitem o ridículo.

 

P.S.: A última frase foi reformulada, devido a um manifesto excesso da minha parte.

5 comentários

  • Incluíndo ou excluíndo a última frase?
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    jpm 06.12.2011

    Excluindo. Por muito estúpida que seja a crítica, não faz muito sentido o "vão trabalhar e pagar impostos"
  • Olha que não, olha que não. Bem, em primeiro lugar, a frase em si não me parece encerrar nada de muito estapafúrdio: apela à ética de trabalho que nos permitiu chegar onde chegamos, ao cumprimento escrupuloso dos deveres para com a lei e à integração saudável na sociedade.

    Fora de brincadeiras, mesmo assumindo que não existe uma ligação necessária em quem arranja este tipo de esquemas argumentativos manhosos e quem não quer as medidas de austeridade, acho pessoalmente que deve existir uma ligação pelo menos forte. O argumento é obviamente mau, mesquinho e de apelo a ódio - não é coisa que um cidadão comum se lembre de dizer numa tarde de boom económico. Daí o «trabalhem, paguem impostos e evitem o ridículo». Em vez de andar com esquemas de mau-pagador, mais vale que se cumpra o estabelecido sem parvoíces deste nível.
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    jpm 06.12.2011

    Mas o problema não é a ligação entre quem utiliza estes argumentos e quem contesta as medidas de austeridade ( que já é infeliz). É assumir que quem contesta as medidas de austeridade não quer trabalhar. É lançar o anátema da ociosidade em função de determinado argumento político. Isso é que não faz sentido.
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