Até à morte natural, a não ser que
Faz amanhã uma semana que tive a oportunidade de jantar acompanhado da malta do Partido Pró-Vida em cinco minutos de Direito de Antena. Confesso que de todo o zumbido fixei pouco mais do que o que me pareceu essencial: que defendem a inviolabilidade da vida humana desde a sua concepção até à morte natural. No blogue do partido ficamos a saber que são também contra a «educação nacional-sexualista e o "casamento homossexual"» [1]. Assim com hífen e aspas.
É o próprio PPV que admite seguir a doutrina social da Igreja, ainda que diga ter apoiantes não católicos. A ideia é cristalina e o próprio Bento XVI já a repetiu: «ninguém é proprietário da sua vida» [2], que se deve à vontade de um Deus que por sua vez ditou como destino que os pais de cada um de nós nos fizessem quando, onde e como fizeram. Os Seus desígnios são insondáveis, e é tudo menos censurável o Seu bom gosto na escolha do entretenimento a que assiste.
Não faço ideia de até que ponto os senhores do PPV levariam à prática o que defendem, mas quero ressalvar que nisso a Igreja é absolutamente coerente e humana. Humana porque, mesmo no caso de uma gravidez com perigo de vida para a mãe, o aborto está fora de questão [3]; coerente porque pessoas como o ex-Papa João Paulo II e o mais alto representante do Vaticano nos Estados Unidos foram proprietários das suas vidas nas respectivas fases terminais, tendo um sido entubado [4] e o outro ventilado artificialmente [5], até às suas mortes não naturais.
A religião não emudece apenas quando um crente idoso diz que está farto de viver [6]. Os guardiões do templo também não têm muitas palavras a dizer quando o que defendem lhes escorre pela testa.