O desertor
Ao decidir transferir os capitais da sua empresa para a Holanda, Alexandre Soares dos Santos parece ter comprado o ódio generalizado das «elites esclarecidas». Lideradas por Nicolau Santos, autor de colunas de opinião invejáveis (invejáveis!), as almas indignadas atacam o homem que agora não pagará impostos em Portugal. Este homem que não é patriota, que é um Judas televisivo, que é, se nos permitíssemos tanto, um pulha.
Pois tudo isto consiste num conjunto de erros de facto ou erros de análise. Com a transferência, a única coisa que não paga impostos é a empresa em questão – uma empresa detentora de capitais financeiros que recebe coisa de 50% dos dividendos da Jerónimo Martins. A Jerónimo Martins continua a pagar todos os necessários impostos – IVA, IRC e restante molhada. Os Pingos Doces ainda são da gente, malta, ainda nos pagam impostos. Isto para não referir (referindo) a quantidade de empregos que a Jerónimo Martins mantém em Portugal, coisa muito contra a pátria que esse Soares dos Santos, o malandro, anda a fazer.
Agora a ética. Ai, como gostamos de mandar uma laracha ética, uma pequena chapadinha de moralismo. Este Judas, que vinha para a televisão mandar bitaites, agora furta-se ao imposto bom que Portugal cobra. Não contribui, o maldito. O que Soares dos Santos fez foi uma decisão perfeitamente banal nos mercados: arranjou o seu portfolio de maneira a ter os melhores resultados. A elite indignada, em vez de atacar quem toma decisões acertadas, devia ajudar a perceber porque é que as decisões acertadas não passam por aqui. Nem para o Soares dos Santos, nem para qualquer pessoa que queira ter uma vida decente. Olhemos para esses milhares de jovens trabalhadores, investigadores e empreendedores que se vendem ao monstro estrangeiro, gente sem pátria nem honra, nem ética. É isso, não é?