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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

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Cigarrinhos

Tiago Moreira Ramalho, 10.01.12

Quatro anos depois da proibição parcial do fumo em locais públicos, o governo pretende aprofundar, à medida dos «países mais avançados» (que delícia!), as restrições, passando a proibir o fumo em todos os locais públicos e possivelmente nas suas imediações. Justifica-se a proposta com uma suposta necessidade de reduzir a exposição de consumidores e empregados ao indesejado fumo e com um perigoso objectivo de reduzir o consumo.

Falar numa necessidade de reduzir a exposição de quem quer que seja ao fumo parece assumir que os malvados fumadores obrigam os que os rodeiam a absorver o pecado carbónico, quando a verdade é que simples presença no grupo dos consumidores ou dos empregados implica uma decisão prévia. E a decisão de pertencer a um destes grupos, assumindo que a gente é crescidinha e ainda consegue decidir racionalmente, tomou necessariamente em consideração, mesmo que de forma implícita, o fumo do tabaco. Por isso, se os indivíduos se tornaram consumidores ou empregados, significa que o fardo da exposição ao tabaco não é suficientemente pesado. Dava-lhes mais prazer que o fumo não estivesse lá? Possivelmente. Mas a lei deve servir para resolver conflitos ou promover soluções de coordenação que beneficiam todos. Ora, no caso, tudo está resolvido sem lei. A sua simples proposta mostra simples ignorância.

Posto isto, olhemos para o objectivo de reduzir o consumo. A coisa é particularmente macabra. O consumo de tabaco, acreditando que gera externalidades negativas fortes, já é fortemente taxado – o que me parece perfeitamente equilibrado. Mas é importante compreender que a taxação está ao nível da compensação. Há custos sociais óbvios no fumo de tabaco e, por isso, os fumadores compensam a sociedade. Muito diferente é essa mesmasociedade, mais do que ser compensada, querer assumir controlo sobre a decisão. Isto resume-se a básica infantilização e dominação de indivíduos, cujo direito a fazer o que querem das suas vidas roça o sagrado. Seja isso comer saladas ou, como escreveria o Eça, chupar cigarrinhos.

Pode ser que o movimento cívico-contabilístico dos restaurantes que, há quatro anos, gastaram milhares de euros em sistemas de ventilações e semelhantes empreitadas leve  a que a parvoíce seja impedida. Caso contrário, é apenas mais uma. Respire-se fundo e, no limite, chupe-se um cigarrinho. Mas longe as imediações.

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