Portugal visto da retrete
Vasco M. Barreto, 16.02.12
Creio que existe já uma tese de mestrado sobre a prosa e contribuições pictóricas nas portas dos lavabos públicos e a vida é demasiado curta para andarmos a replicar o trabalho dos colegas. Sei também que argumentos que incluam a palavra "retrete" estão para a retórica como a fart joke para o humor. Mas acreditem que a ideia não era mostrar pirilaus por dá cá aquela palha. Ainda que frequente este local esporadicamente, vou lá as vezes suficientes para registar um antes e um depois; o antes, como terão já deduzido, era a porta sem o aviso colado. O resultado final parece-me um retrato bem conseguido de um país, mesmo havendo quem insista na tese de que não devemos atribuir traços de personalidade aos povos - é mais uma daquelas teses que fica bem enunciar, para depois poder não cumprir. E então é isso mesmo: o país da bola e do sexo, boçal e animalesco no seu acto de baixar as calças e escrever sentado e desatento ao respingo versus o Portugal cívico, cosmopolita e de mãos lavadas, que sabe usar negritos e impressora para lutar pelo que realmente interessa (a higiene), sem acumular o impulso censório de ocultar nus. Em síntese, o que temos aqui é a civilização a emergir da barbárie. Portugueses, pode não haver dinheiro, mas ainda há esperança.