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A Douta Ignorância

Política, Economia, Literatura, Ciência, Actualidade

A Douta Ignorância

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Rigor

Priscila Rêgo, 06.07.12

N'O Insurgente, o Ricardo Campelo de Magalhães refere um popular estudo do Banco de Portugal segundo o qual os salários na função pública são cerca de 73% mais elevados do que no sector privado. Bom, isto é o que ele escreve. Mas não é bem, bem assim...

 

O estudo está aqui. A tabela que ele refere (página 83, primeiro quadro) mostra que em 2005 o salário médio na função pública era de 1.491€ versus 859€ no sector privado. O que é verdade, segundo a base de dados utilizada, mas apenas se limita a reproduzir uma conclusão algo trivial que já era conhecida há muito. Se o estudo fosse só isto, não justificaria todo o alarido que gerou.

 

Aquilo que torna este artigo interessante não a comparação de médias, mas sim o requinte com que os economistas do Banco de Portugal fizeram a comparação: olharam para os números em bruto e "filtraram" características como a escolaridade, experiência e por aí fora. Tal como não é legítimo comparar o salário de um banqueiro com a remuneração de um pedreiro sem levantar em conta as suas qualificações ou produtividades relativas, não é correcto comparar salários da função pública e do sector privado sem fazer pelo menos uma tentativa de neutralizar o ruído criado pela existência de diferentes características. 

 

Quando se faz isso, a diferença de nível salarial é de 16,9% (página 69, dados seccionais). Ok, 16,9% ainda é um prémio salarial grande. Mas passar de 16,9 para os 73% é - enfim, como é que hei-de dizer isto? - um pouco... enganador, vá lá. 

 

Entretanto, posso transmitir uma novidade, que para muitos será em primeira mão: os mesmos economistas do Banco fizeram um estudo mais recente, com uma metodologia ainda mais refinada. Há uma diminuição significativa do "prémio salarial", que passa agora para... 4,4%. Como sei que o Ricardo Campelo de Magalhães será um leitor fervoroso do 'paper', deixo aqui o link. Com uma recomendação: que o leia com mais atenção do que a que dispensou ao anterior. 

 

4 comentários

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    PR 06.07.2012

    Sim. Na página 23 está a tabela que me parece mais relevante.
  • Sem imagem de perfil

    LA-C 06.07.2012

    Priscila, mas esses valores são de 1999! Além disso, parece-me, os autores não usam uma base de dados tão rica como a que tinham no outro estudo, porque como estudam para vários países têm de garantir que há dados disponíveis, enquanto que antes se tinham limitado a estudar o assunto a fundo para Portugal (além de que usavam dados que não havia entre 1993 e 1999).
    Por mim, continuarei a usar os 16% desse outro estudo como proxy para o diferencial salarial. (lembrando-me sempre que, de acordo com esse estudo, os economistas que trabalham no sector público ganham menos).
  • Sem imagem de perfil

    PR 06.07.2012

    LA-C, eu resumiria as conclusões deste estudo da seguinte forma:

    a) O desvio salarial "bruto" e "ajustado às qualificações" é parecido com o que é captado no estudo anterior, para o ano em que há análises sobrepostas. [o que é bom, e serve de confirmação independente, dado que as bases de dados são diferentes]

    b) O desvio salarial que leva em conta os "unobservables" é bem inferior ao que se nota no "bruto" e no "ajustado às qualificações" para todos os anos da análise.

    Ou seja, este estudo não permite dizer que hoje há um desvio salarial público-privado de 4,4%. Mas dá fortes indícios de que o desvio de 16,9% que é calculado no outro estudo para 2005 é, com toda a probabilidade muito empolado.
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