Feira Cabisbaixa
À noite pode ser diferente, mas durante o dia e enquanto decorre a Feira do Livro, o Parque Eduardo VII, em Lisboa, é um festival de famílias, rulotes de farturas e escritores à espera de quem lhes peça um autógrafo. Um António Lobo Antunes terá sempre grandes filas de admiradores. É normal e justo. Mas causa algum transtorno ver uma figura como Eduardo Lourenço numa mesa vazia perante a indiferença da turba que se apinha para tirar fotografias a um Filipe Faria. É a democracia consumista em acção, de máquina digital em punho e a empurrar, parque acima, o futuro em forma de carrinho de bebé. Do outro lado da feira e deste espectáculo infantil, o contraponto cronológico: uma mesa onde se sentam as tartarugas do regime, de Baptista-Bastos a Mário Zambujal, que cavaqueiam placidamente ao sol. Um país dentro de um parque, clima favorável à exposição de intelectuais em esplanadas, hordas de compatriotas que ziguezagueiam em velocidade Colombo, barracas que conferem ao evento um encanto mediterrânico e demodé, literatura religiosa e literatura profana, pequenas editoras e gigantes do mercado.
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