A jornalista São José de Almeida reuniu, para uma notícia, chamemos-lhe assim, um conjunto imenso de historiadores cujo denominador comum é terem as mesmas posições sobre o objecto da dita notícia, chamemos-lhe assim. A jornalista São José de Almeida cansou-se para nada. O longo artigo é apenas um amontoado de evidências para a conclusão geral dada por Rui Ramos. Se formos mauzinhos, podemos dizer que a jornalista São José de Almeida fez o favor de publicar, sem saber, um ensaio de Rui Ramos sobre a academia portuguesa. Leiam-se os quatro últimos parágrafos:
«Rui Ramos lamenta que não se viva com naturalidade as divergências de interpretação. "Vivemos num mundo muito diferente do que eu vivi em Inglaterra ou em Espanha, onde nos mesmos seminários, congressos e departamentos convivem pessoas com ideias muito diferentes, discutindo acalorada ou friamente, mas debatendo e divergindo. Pessoas que se respeitam e vêem o trabalho dos outros com respeito."
Nesses países, insiste, há "uma nítida ideia de que a História é plural" e há quase tantas correntes como historiadores. "A universidade puxa à contradição e à crítica."
Em Portugal, diz, é diferente. "Convivemos mal com a pluralidade, achamos sempre: "A verdade é minha."" Vai mais longe: "A originalidade é mal vista. Por vezes, as teses têm dados num sentido, mas as introduções e as conclusões dizem o contrário porque os alunos querem repetir o pensamento dos orientadores. Há uma sujeição à hierarquia e os departamentos são marcados por correntes."
Não há matizes, garante. "A História é a preto e branco, ou genial ou porcaria, ou esquerda ou direita", sendo certo que, por vezes, nem é a questão ideológica que move os historiadores. É a "vassalagem" ao pensamento dominante.»