Nem mortos
Saramago não teria querido Cavaco no seu funeral, mas certamente ficaria satisfeito com a presença de um Presidente - como reconhecimento máximo da sua importância para o país. Acontece que o Chefe de Estado é Cavaco e que um artifício institucional não apaga a personalidade. Por muito que apelem à sua despersonalização e a que ele procure o "interesse nacional" (seja isso o que for), o cérebro do Chefe de Estado é o mesmo que em 1993 censurou - por acção ou omissão - a candidatura do Evangelho Segundo Jesus Cristo a um prémio literário europeu. Seria justa a presença de um Presidente no adeus ao Nobel; mas não este: Cavaco e Saramago não quereriam cruzar-se mais. Nem mortos. E se Cavaco poderia ser obrigado - por dever profissional - a comparecer, neste caso o "interesse nacional" não se sobrepõe à vontade de Saramago.