O golpe de Estado
Quando personalidades gradas do regime, gente que lutou – ou que pelo menos gosta de dizer que lutou – pela democracia, pela liberdade, apelidam de «golpe de Estado» uma proposta de revisão constitucional apresentada respeitando todas as normas e todos os princípios democráticos, apenas nos restam certezas sobre as respectivas capacidades de discernimento. Ontem, enquanto as televisões apresentavam, durante minutos infinitos, uma panóplia extensa de personalidades a explicar a infelicidade das propostas social-democratas, a expressão repetiu-se até à náusea. Esta e a do «retrocesso civilizacional». O PSD está contra a História e assim.
A questão é muito simples: se as propostas social-democratas são assim tão más não há-de ser complicado para os guardiães do statu quo, esse bando de indignadinhos de dedinho arrebitado e voz estridente, rebatê-las num debate minimamente elevado, que não esteja povoado de lugares-comuns e expressões vazias. O problema, para eles, é que as propostas, na verdade, não são assim tão más quanto isso.