Ok, erro cometido, assumido e registado. E agora?
Uma possibilidade é assumir que vamos a tempo de corrigir o erro, voltar atrás e fazer agora o que devíamos ter feito antes: reestruturar a dívida grega, aliviar a austeridade e assumir as perdas daí decorrentes - seja directamente, através de um "haircut" dos empréstimos feitos pelos países da Zona Euro, seja indirectamente, através do balanço do Banco Central Europeu (o que implica monetizar défices ou aumentar o capital do BCE).
A solução parece óbvia. A Grécia é pequena. Perder alguns milhares de milhões de euros com um país minúsculo é lamentável, mas compreensível, se a alternativa for o colapso da Zona Euro. Mas esta ideia é tão ingénua como a do post anterior, porque parte do pressuposto de que nada mudou entretanto.
Na verdade, muita coisa mudou. A mais relevante é o alastrar do receio dos mercados financeiros à dívida pública "periférica", que já obrigou Portugal e Irlanda a recorrerem à ajuda externa e deixou Espanha e Itália na "corda bamba". Uma grande reestruturação da dívida pública grega seria imediatamente lida pelos mercados como um sinal de que uma decisão semelhante seria tomado em Portugal, Irlanda e Itália. Conhecendo o historial de alguns destes países, é até provável que eles se empenhassem activamente nisso. Itália e Espanha perderiam imediatamente acesso aos mercados e teriam de ser socorridos pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira.
O Fundo não chega para estes dois gigantes. Mas vamos assumir que há dinheiro que chegue. Neste cenário, a Europa faz o empréstimo e recebe o capital e respectivos juros quando as obrigações chegarem à maturidade. Em teoria. Na prática, o afrouxar da pressão sobre o orçamento da Grécia teria como consequência provável um afrouxar idêntico sobre países como Portugal, Irlanda e Itália, cuja dívida pública está no limite da sustentabilidade. Haveria aqui o risco sério de que a dívida entrasse numa espiral interminável que acabaria com uma reestruturação em grande escala. Nesta altura, as perdas teriam de ser assumidas pelo BCE e pelos países europeus - com a Alemanha à cabeça.
É neste ponto que foi colocada a fasquia nos últimos meses. Os alemães estão, compreensivelmente, receosos com o moral hazard que possa advir da decisão tomada em relação à Grécia. Manter a Zona Euro viva continua a ser um objectivo. Mas uma Zona Euro mantida viva através de um fluxo interminável de dinheiro para a periferia é uma Zona Euro em que os alemães, provavelmente, não quererão viver. Agora, não há soluções fáceis.